Peter, sempre gostei
desse nome. Li uma vez no livro “Em busca dos nomes da vida”, Peter é uma
pessoa que procura pela paz, inteligente e intuitiva, porém egoísta.
Mas aquele rapaz sentado do meu lado, preocupado
com o vôo, que ainda iria demorar, parecia uma boa pessoa, era bonito, com
certeza. Mas seus olhos mostravam preocupação, como se algo muito importante
estivesse acontecendo em seu destino. Logo depois de ter se apresentado ele
ficou quieto, fechou o sorriso e olhou para o painel, como se quisesse entender
como funcionava. Ele fechou os olhos, e começou a mexer os lábios, mas não
emitia nenhum som. Como se fizesse uma prece, á alguém no qual eu não sabia o
nome.
Ele abriu os olhos e pareciam mais iluminados.
- Para onde pretende ir? – Perguntou-me, desajeitado
como se temesse estar invadindo minha privacidade.
- To voltando pra casa... E depois de matar a
saudade da família e de ficar por um tempo, vou para a Grécia, pretendo começar
meus estudos lá, amo história. E não existe um lugar melhor para se começar do
que a Grécia.
Ele me observava, seus olhos eram azuis
esverdeados o que deixava difícil de não os encaralo. Ele baixou a cabeça e deu
um sorriso.
- O que foi? – Perguntei confusa.
- Você me lembra bastante minha irmã, Susan.
Cabelos escuros e pele clara. Mas ela... bem, está bem longe daqui.
- Poderia saber onde? – Estava ficando curiosa,
ele era um rapaz bonito que transmitia um ar de mistério, ele devia ter muitos
segredos.
- Ela foi para os Estados Unidos quando tinha
dezenove anos... Se achava adulta demais, e deixou toda a fantasia da infância
dela para trás, como se nunca tivesse existido. Mas ela é uma pessoa legal.
- Hã, eu tinha um irmão chamado David, ele
também se achava muito adulto e se inscreveu para uma guerra no Vietnã, e não
retornou mais.
Ele segurou minha mão como se soubesse o quanto
doía falar sobre isso. Mas percebeu o que fez e a soltou rapidamente, suas
bochechas estava em um tom rosado.
Foi ai que eu me dei conta, estou contando meus
assuntos particulares para um completo desconhecido... Não acho isso muito
certo, mas estava determinada a descobrir o segredo de Peter.
Olhei para o grande relógio acima das portas dos
banheiros, ainda eram sete e quinze da manhã, ainda faltava muito para meu vôo
sair. Endireitei-me na cadeira e guardei meu livro.
- Já que os nossos vôos vão demorar, que tal
irmos tomar um café? – Perguntei, abrindo o sorriso mais encantador que
consegui.
- ótima idéia. Eu pago – Disse Peter.
Levantamos e seguimos para uns dos restaurantes
no interior do aeroporto. Fomos no “Velha Inglaterra”, havia várias mesas
espalhadas pelo pavilhão, em volta do balcão tinha uma fileira de bancos altos.
Sentei-me em uns dos bancos do meio, Peter se sentou do meu lado direito. Pedi
um Cappuccino, e Peter um simples café com dois quadradinhos de açúcar. Ele me
observava ao beber o café, o que me deixava constrangida.
- Poderia perguntar, onde você morava antes de
vir para cá?
- Portugal – Digo entre um gole do cappuccino –
Lá é ótimo, mas não proporciona muitas coisas, achei melhor vir pra cá, mas
aqui sei lá, não é o meu lugar.
- Entendo... Eu nasci aqui na Inglaterra, mas eu
sei que aqui não é o meu lugar. Descobri isso quando era mais jovem, meu lugar
é em um mundo totalmente diferente desse.
- Como assim? – Estava confusa, não poderia
existir “outros mundos”. Poderia?
- Não sei se posso contar. É uma coisa muito
pessoal minha e de meus irmãos. Não sei se posso sair contando para qualquer
estranho...
Baixei a cabeça, eu sei que sou mesmo uma
completa estranha, mas desde quando eu o vi senti algo forte, uma atração. Mas
onde estou com a cabeça? Um rapaz tão bem apessoado assim deve ter namorada.
Conversamos por mais vinte minutos, até que uma
voz feminina sai pelos rádios do aeroporto, dizia que o avião com destino a
Portugal sairia daqui quinze minutos. Peter paga nossos cafés, pego minhas
malas, e vou para os portões para pegar o avião. Quando chego à porta Peter
está do meu lado, viro-me e lhe dou um beijo no rosto.
- Foi um prazer conhecê-lo. Sabe eu lhe disse
que vou para Grécia dentro de uns dias, mas Roma também tem histórias bem
interessantes. Talvez eu mude de opinião.
- Isso é ótimo, então vai saber que não nos
encontramos de novo – Ele sorri –Mas talvez pela frente eu possa te contar
tudo...
A voz da mulher soa novamente fazendo a última
chamada.
- Então tchau – Digo me dirigindo para o avião,
entro, guardo minha bagagem e olho pela janela, Peter está acenando com a mão,
me dando tchau, e eu aceno de volta como se fosse-mos um casal de namorados se
separando por um tempo
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