sexta-feira, 25 de maio de 2012

1º CAPÍTULO DO PROJETO 'GANHANDO VIDA'


O dia estava nublado e o Sol manhoso se escondia por trás das nuvens cinzentas típicas do inverno inglês. A neve esculpia formas inimagináveis nas ruas e o tom pacífico só era rompido pelo vermelho vivo dos ônibus que passavam. Desde que eu chegara na cidade, aquela fora a manhã mais fria, o que refletia o estado de minha alma, no dia em que para minha infelicidade, eu partiria.

Quase um mês se havia passado desde que eu pisara pela primeira vez na terra da Rainha, durante uma busca que nem eu mesma soube explicar pelo que era, mas de certo modo, sabia que estava lá. Enfim, eu já deveria voltar para casa, e mais uma vez, com aquele espaço vago ainda não preenchido. Passei bons momentos, conheci pessoas maravilhosas e lugares inesquecíveis, mas aquela essência, aquele complemento, ainda não havia sido capturado.

O carro parou, paguei o motorista e desci, com um peso tão profundo que palavra alguma pode explicar. Como se eu ainda não pudesse ir, como que se aquele buraco negro dentro de mim dependesse apenas de uma atitude, de uma escolha. Mas como sempre, ignorei estes instintos, e segui em frente.

O aeroporto estava lotado, bem mais do que no dia em que cheguei. Meus pés custavam se mexer, eles não queriam, mas mais uma vez, foram forçados. Ainda faltavam algumas horas para meu vôo, eu havia seguido um conselho, e chegado um pouco antes, talvez tenha exagerado no “um pouco”, mas como eu já estava lá, e já havia fechado as contas do hotel, não tinha mais volta. Sentei-me na cadeira do meio da terceira fileira da sala de espera, na realidade eu preferiria me sentar na 1ª, para não me sentir presa, mas achar mesmo este lugar horrível, foi uma luta. Seria meio difícil me concentrar para ler alguma coisa naquele alvoroço, mas mesmo assim me arrisquei, pegando pela milionésima vez “A menina que não sabia ler”, mesmo que não conseguisse acompanhar o livro, eu já sabia a história mesmo, e passaria um ar aristocrático, com ele na mão. Foi impressionante, como minha mente parou instantaneamente de ver as imagens de Florence a beira do lago, e começou a relembrar sonhos antigos, de quando ainda escutava histórias infantis antes de dormir. 

Os pássaros gigantes que pairavam sobre as árvores, os castelos luminosos que não tinham fim, e o fiel complemento que eu nunca decifrava, e fazia destes sonhos, imortais. Foi quando acordei do transe, com o balançar da cadeira ao lado, que ficava vaga com a saída de um senhor grisalho. Antes mesmo que eu pudesse voltar a sonhar acordada, o que levava um tempo, considerando o movimento do local, senti mais uma vez a cadeira se chacoalhando. Não olhei, mas percebi que uma pessoa havia ocupado o lugar. Permaneci focada no livro, o qual fingia estar lendo, mas ao mesmo tempo procurava alguma desculpa em minha mente colossal para olhar para o lado, e ver quem havia se sentado ao meu lado. Para meu alívio, nem foi preciso, pouco depois de se sentar, ouvi da minha direita:

_Desculpe incomodar, mas poderia me informar quando sai o vôo para Roma? – disse.

Olhei para o lado, e percebi um homem vestindo um terno negro, de cabelos claros bem penteados, e olhar preocupado. 

_Roma? Vejamos... – conferi no painel que estava a minha frente –O vôo para Roma saiu há duas horas!

_O que? Não é possível! Onde está vendo isso?

_Naquele painel bem ali! É onde fica o cronograma de vôos. – respondi meio confusa que ele não soubesse disso

_Ah, me desculpe. É que ainda não me acostumei à esse tempo.

_Este tempo?

_Digo... Bem... Sou de uma cidade pequena do interior, não estou acostumado à estes aparelhos. – disse ele, meio arrependido

_Você não pode esperar até amanhã? Há outro vôo para Roma neste mesmo horário.

_Como disse, vim de longe, este atraso me fará muita diferença. Preciso chegar à Roma o quanto antes. Não existe outro meio de chegar até lá?

_Bem... Se você tem tanta pressa, não. Que mal lhe pergunte, quando é seu compromisso? – perguntei, sendo um pouco indelicada

_Na verdade, depois de Roma tenho que seguir para outra cidade. O que me preocupa, é esta outra viagem. – ele disse, agora, bem ansioso

_Talvez exista um vôo direto para esta cidade. Qual o nome dela? – foi aí que comecei a entrar demais na conversa. Talvez pudesse ajudar.

_Narni.

_Ah... Nunca ouvi falar, mas parece que realmente não existe este destino aqui.

Ele colocou as duas mãos no rosto, e percebi que o assunto era mesmo sério. Me senti no dever de fazer alguma coisa para que ele não ficasse daquele jeito, não sei por que, agora eu me sentia responsável pelo vôo já ter partido.

_Sou Anete Blury. – disse tentando fazer com que ele se animasse.

Ele tirou as mãos do rosto, deu um sorriso, e como que se recordando que eu estava lá, depois de em um ato de cavalheirismo que não se encontra hoje em dia, ter beijado minha mão, disse:

_Peter Pevensie.

Capítulo escrito por Rafaela S.R.,
Adm do grupo As Crônicas de Nárnia e do Grupo NARNIetes

Postado originalmente no grupo NARNIetes

2 comentários:

- Kkkkkkkkk.... Gostei muito miguinha, estou me perguntando várias coisas a cerca do desenrolar desta história. Estou ansioso para o próximo capítulo, você escreve muito bem. *---*

Ah obrigado Matt...
E você pode aguardar mesmo, a história promete.

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